Resumo
Parece que não, mas fenômenos climáticos são comuns e (alguns são) importantes para a manutenção deste equilíbrio. Eles sempre estiveram por aí, basta observar atentamente.
Em 2023, entramos em um El Niño. Com as águas mais quentes, a temperatura do mundo seguiu o mesmo caminho. Aliás, para se ter uma ideia, no El Niño mais forte dos últimos anos, em 2015/2016, foram registrados os anos mais quentes da história do planeta.
Esse clima traz secas em regiões tropicais do mundo. Em 2023, vimos a pior seca da Zâmbia em 40 anos e uma quebra de safra na Índia que disparou o preço do açúcar e aumentou os custos. No Brasil, o efeito em 2024 não foi tão drástico quanto em 2016 pois estávamos mais bem preparados. Mesmo assim, o El Niño traz mais chuvas para o sul e vimos, ainda em 2024, a pior inundação da história no Rio Grande do Sul.
Porém, nos últimos meses, vimos a temperatura do mar baixar e ficarmos numa zona neutra, onde não há El Niño e La Niña. Essa zona marca um período de transição do “pêndulo climático” de um fenômeno para outro. A previsão é que o La Niña ocorra lá por outubro e há 65% de chances que isso se confirme. Seca, calor, frio… Hoje vamos discutir sobre como o La Niña pode afetar o país tropical abençoado por Deus.
Menino e menina
Nosso planeta se formou há milhões de anos.

Na era mais recente, o ecossistema encontrou seu equilíbrio com um clima favorável e a vida balanceada.
Parece que não, mas fenômenos climáticos são comuns e (alguns são) importantes para a manutenção deste equilíbrio. Eles sempre estiveram por aí, basta observar atentamente.
Inclusive, foi observando atentamente que alguns pescadores no Equador antigo perceberam que as águas do Oceano Pacífico se aqueciam durante o período das festas de fim de ano. Para aproveitar o momento e sua fé, batizaram este fenômeno com El Niño.
Contudo, com o passar dos anos, mais observações e estudos foram feitos. Na realidade, as águas ficavam aquecidas por um período bem maior que o natalino. E que esse fenômeno era como um pêndulo: por alguns meses ou anos as águas esquentavam, por outros ela esfriava. Para manter a tradição, o fenômeno oposto foi batizado de La Niña.
“Mas como isso afetaria a minha vida?”
O Pacífico é o maior oceano do mundo. Assim, as mudanças nas temperaturas de suas águas afetam diretamente o clima das regiões mais perto deste oceano: Américas, Ásia e Oceania (um pouco da África também). Como os efeitos possuem intensidade, quanto maior a variação da temperatura, mais forte ele será no mundo.

Em 2023, entramos em um El Niño. Com as águas mais quentes, a temperatura do mundo seguiu o mesmo caminho. Aliás, para se ter uma ideia, no El Niño mais forte dos últimos anos, em 2015/2016, foram registrados os anos mais quentes da história do planeta.
Esse clima traz secas em regiões mais tropicais do mundo. Em 2023, vimos a pior seca da Zâmbia em 40 anos e uma quebra de safra na Índia que disparou o preço do açúcar e aumentou os custos.

Preço do contrato de açúcar na bolsa de NY
No Brasil, o efeito em 2024 não foi tão drástico quanto em 2016 pois estávamos mais bem preparados. Mesmo assim, o El Niño traz mais chuvas para o sul e vimos, ainda em 2024, a pior inundação da história no Rio Grande do Sul.
Porém, nos últimos meses, vimos a temperatura do mar baixar e ficarmos numa zona neutra, onde não há El Niño e La Niña. Essa zona marca um período de transição do “pêndulo climático” de um fenômeno para outro. A previsão é que o La Niña ocorra lá por outubro e há 65% de chances que isso se confirme. Claro, por se tratar de clima, aqui usamos a “previsão” no sentido mais forte da palavra.
Mas a mudança é inevitável. E o que isso significa?
Bem, vamos trazer os efeitos macro e depois explorar os efeitos no agronegócio e no setor energético.
Subscrito
Do lado macro, o La Niña costuma ser o inverso de seu par: tempo mais úmido no norte da América Latina e mais seco no sul. Subindo um pouco mais no globo, vemos um clima mais frio e úmido nos EUA e Canadá (época de nevascas) e um aumento na incidência de furacões no Golfo do México, como já estamos presenciando. Como esta é uma região bem marcante pela produção de petróleo, devemos ver os países produtores da região, México e EUA, segurando seus estoques para lidar com essas turbulências.
Por fim, devemos ver um clima mais ameno e “tropical” na Índia e na China.

Falando em clima tropical, existe 2 culturas que são bastantes sensíveis ao clima seco e que podem ter a produção beneficiada com a volta do La Niña: Cacau e Café. Tradicionalmente, após o fenômeno, os preços dessas commodities tendem a cair, muito por conta da boa produção que é apresentada. Isso vale para o açúcar, que é uma plantação bem sensível. (Obviamente, estamos falando em um cenário “tudo o mais constante”, sem levar em consideração demanda e estoques globais).

No Brasil, já demos uma pista em parágrafos anteriores: tempos clima mais úmido no norte, frio no Centro e seco no sul. Assim, um La Niña mais fraco é uma boa notícia para o cerrado, que vai conseguir aumentar sua produtividade como um todo. Em 2021/21, na última safra recorde do país, estávamos em um La Niña. Porém, caso o evento venha forte, podemos ver chuvas mais intensas que o normal, além de uma possível formação de geadas, o que prejudica muito as safra.
Inclusive, mesmo que não estejamos oficialmente no La Niña, empiricamente é possível perceber que este inverno está mais frio. Recentemente vimos uma tese de um inverno mais quente prejudicando as varejistas de moda, soltou recentemente um relatório informando que o frio deste inverno deve trazer um alívio nas vendas dessas lojas. Um destaque deste relatório foi a da gaúcha LREN3, que estava com remarcações (promoção/etiqueta laranja) menos agressivas que os seus pares.
E no sul?
Por falar em gaúcho, já que a primeira pergunta do subtítulo é como isso afeta o Grêmio, podemos afirmar que os jogos em Porto Alegre realmente serão em um clima mais seco e até mais quente. Para os produtores rurais da região, o sinal de alerta é aceso, já que da última vez, vimos quebra de safra no Paraná de até 60% da plantação.
Para a soja, temos um cenário um tanto complexo. No curto prazo, temos muito mais tendência baixista que altista no preço da soja. Seja pelo fato dos EUA estarem com um estoque muito alto, seja pelo fato de termos muitos investidores institucionais vendidos na commodity.

Fonte: SLC Agrícola

Imagem feita pela Pine Agronegócios
Além disso, temos o efeito Argentina.
Por conta do El Niño, a safra de soja lá foi boa. Mesmo o país produzindo uma quantidade muito inferior que a brasileira, essa notícia manteve a commodity em patamares baixos. Qual o motivo? Bem, a Argentina é um dos maiores exportadores do complexo soja, ou seja, farelo e óleo. Como são produtos que possuem alta correlação, os preços caíram com uma maior oferta.
Sim, os retornos da soja são quase inversos no Brasil e Argentina por conta desses fenômenos climáticos. Uma tabela publicada pelo Khalil de Lima, amigo e analista da Reach Capital, no ano passado, mostra os yields da soja nesses períodos.

Fonte da Imagem: https://x.com/khalildelima1/status/1639389998553133060/photo/1
Em suma, o La Niña é interessante para a produtividade brasileira de grãos, especialmente a soja (e o milho).
Com uma produtividade melhor na soja, podemos ver resultados interessantes de papéis como: SLCE3 e AGRO3 (exploradoras de fazenda), SOJA3 (uma das grandes vendedoras de sementes do país), KEPL4 (a maior fabricante de silos, com um plano safra turbinado), e RAIL3 (um dos grandes players ferroviários, já que a soja tem que ser escoada para algum lugar).
Porém, como a safra só começa a ser plantada por agosto e setembro, e ser vendida em maio, junho e julho, devemos ver esse efeito no preço apenas em meados de 2025. Isso não é muita surpresa já que, no agro, os eventos climáticos ocorrem primeiro e só um tempo depois que afetam os preços. Essa defasagem é relativamente normal. Assim, não se surpreenda se o mercado “enxergar” os fundamentos apenas no ano que vem.
Algo que deve ser enxergado neste ano é a conta de luz. Já vimos notícias de aumento na bandeira tarifária. O motivo é que os reservatórios das hidrelétricas estão reduzindo por conta da seca. Advinha quem trouxe a seca para o país? Isso mesmo, o El Niño. Dessa forma, até o La Niña chegar e trouxer um regime de chuvas mais favoráveis, podemos ver um aumento na inflação por conta deste aumento na energia.
Como nada é tão ruim que não possa piorar, esse aumento da inflação pode piorar o rendimento dos juros dos Mercados Emergentes da América Latina, que já estão performando abaixo dos pares globais.

Isso pode acabar enfraquecendo mais ainda o real, que está igualmente “amassado”.
Mas sempre há uma luz no fim do túnel e uma forma de se recuperar. Inflação e energia mais caros acabam sendo mais favoráveis para as empresas de geração de energia elétrica. Isso de dá pelo motivo delas conseguirem reajustar automaticamente estes indicadores e repassar o custo. Assim, olho em TAEE11, ELET3, ENGI11, entre outras geradoras de energia, para esta segunda metade do ano.
Por fim, é importante entendermos que os setores cíclicos, geralmente respeitam seu ciclo. O fenômeno El Niño/La Niña é um ciclo que ocorre há muito tempo e acaba gerando oportunidades interessantes para aqueles que, como os pescadores equatorianos, pararem para observar.
Ainda bem que estamos sempre olhando.